Nesta peregrinação pelas escolas e na presença em numerosos júris de mestrado, tenho encontrado muitos professores a balançar entre o encanto e o desencanto de ser professor. Hoje, o dilema mais dilacerante que nos ameaça.
O encanto mora quase sempre nos alunos, no seu espanto face ao ensino que por vezes é uma revelação, nas suas aprendizagens, no seu trabalho, nas suas descobertas, na sua dedicação. Por vezes, em alguns gestos e disposições de colegas de ofício embora esta possibilidade tenda a escassear por fatores relacionados com a desagregação de uma solidariedade orgânica.
O desencanto revela-se nas condições de exercício da profissão. Na precariedade, na intensificação e complexidade do trabalho, numa certa competitividade, não já no campo da avaliação e da progressão na carreira mas no campo mais dramático de disputar um horário para trabalhar.
Neste cenário, só há uma saída: a de construirmos laços e alianças entre nós. Alianças que nos serenem e securizem. Nos animem e confortem. Nos resgatem das múltiplas asfixias. Bem sei que não é fácil dada a degradação dos climas organizacionais geradas por poderes destrutivos e a ‘desagregação’ supra referida.
Mas é a única hipótese de sobrevivência. E de, eventualmente, nos reconhecermos como irmãos num ofício cada vez mais impossível.
José Matias Alves